Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência realiza Audiência Pública sobre Fibromialgia

A Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CDDPD) realizou audiência pública sobre Fibromialgia em 21 de maio de 2025, no plenário Vereador Lincoln Rodrigues Costa.

Os vereadores Samuel Soares da Silva, José Roberto Reis Filgueiras e Aline Moreira Silva Melo, respectivamente presidente, vice-presidente e membro da CDDPD, receberam como convidados: o secretário Municipal de Saúde, Paulo Vitor da Costa;  o secretário Municipal de Agricultura, Ambiente e Mobilidade Urbana, Caetano Marciano de Souza; o médico ortopedista, Dr. Carlos Eduardo Sardinha; a fisioterapeuta Carolina Gravina; a nutricionista Isabela Almeida; as psicólogas Mayara Souza e Mayra Abrahão; e Edelwaiss Aparecida Conceição Pala e Géssica Coeli, que são pacientes em tratamento de Fibromialgia. Os vereadores Antônio Domingos Ximendes Trindade e Renato Vieira também participaram da audiência.

A vereadora Aline, idealizadora da audiência, apresentou slides da página @fibromialgiadorcronica, da rede social Instagram, para exemplificar as dores do portador da doença. Em seguida, Dr. Sardinha explicou que o diagnóstico é clínico, por não existir um exame específico, e que as dores são difundidas em todo corpo. Falou sobre a história da fibromialgia e trouxe que a comprovação da doença é feita pela ressonância nuclear magnética funcional.

“O motivo da dor crônica é um problema no sistema de dor, causando hiperreatividade no corpo e, consequentemente, sua desregulação. O sistema, considerando dor nociceptiva (inflamatória), equilíbrio muscular, sono, obesidade, controle inadequado da dor, psíquico (depressão, ansiedade), social, stress (físico e mental), precisa ser todo trabalhado quando a dor não é sanada dentro de 3 meses. A dor dos pacientes com fibromialgia é grande, a ponto de 30% a 50% terem pensado em suicídio ao menos uma vez na vida, segundo estudos realizados em 2020, publicado no Journal of Pain Research, e outro em 2011, publicado no Clinical Rheumatology”, explicou o médico.

A fisioterapeuta Carolina disse que se trata de uma síndrome dolorosa crônica, ou seja, além da dor, traz diversos sintomas ao paciente, fadiga, distúrbio do sono, ansiedade e depressão, distúrbio de memória, dentre outros, e que acomete mais as mulheres. Comentou que os estudos não são claros quanto à natureza da doença, mas leva-se em consideração fatores genéticos e ambientais. “O profissional fisioterapeuta age no paciente ajudando-o a se movimentar, mas os resultados são a longo e médio prazo. É importante o acompanhamento da equipe multidisciplinar e a avaliação desses pacientes precisa ser diária e individual. Os exercícios utilizados são aeróbicos, de fortalecimento e alongamento, e outras opções são laser, terapia frio/calor e massagens. A doença impacta no dia a dia das pessoas, dificultando fazer compras, arrumar a cama, lavar a roupa, dentre outras atividades cotidianas”, ressaltou.

Para a nutricionista Isabela Almeida, “existe uma conexão direta entre o intestino e o cérebro, portanto um impacta no outro, o intestino desregulado aumenta o quadro de dor do paciente. Um dos motivos da falta de energia que os pacientes com fibromialgia sentem está ligado a desnutrição, a falta de ingestão de alimentos energéticos ao corpo e, também, a falta de ingestão de água”, afirmou.

Segundo as psicólogas Mayara e Mayra, cada indivíduo sente o sintoma da dor de uma forma diferente, por isso é necessário o olhar individual do paciente. É normal que o paciente se recolha diante da dor, o que pode desencadear depressão e abatimento. O sintoma de cansaço é, muitas vezes, incompreendido pela família e pelo profissional da saúde, que tarda no diagnóstico.  Mayara mostrou o ciclo da dor crônica e sofrimento psicológico, demonstrando que a dor constante causa um estresse emocional, que aumenta a percepção da dor e gera o quadro de ansiedade/depressão. Em seguida falou das emoções que acompanham a dor: ansiedade e medo, tristeza e sensação de impotência, culpa, vergonha, julgamentos sociais, sentimento de invalidação, baixa autoestima, invisibilidade da dor e o silêncio e isolamento social. “Os objetivos terapêuticos são redução da ansiedade e depressão, alívio e fortalecimento emocional, reconstrução da autoestima, gerenciamento de fontes de estresse, ampliação do repertório de satisfação e prazer, retirar o paciente do discurso ‘ensimesmado’ e autoaceitação”, explicou.

A psicóloga Mayra trouxe para sua apresentação a pesquisa “Quais os aspectos psicológicos mais comuns relacionados à fibromialgia”, do período de 2015 a 2019, do banco de dados Scielo e Popsic, e os resultados são pelo abandono de práticas saudáveis. Segundo ela, o psicólogo trabalhará ajudando o paciente a lidar com as questões apresentadas no consultório a se adaptar. Apresentou, também, os aspectos principais quando atinge mulheres, homens e os jovens.

O secretário Paulo Vitor informou que a oferta do município é aquém do necessário, mas é oferecida fisioterapia, que funciona na sede da antiga estação ferroviária, e a carteirinha de prioridade. “Recebemos um requerimento da vereadora Aline solicitando estudos para incluir a fibromialgia na linha de cuidado do município, e isso será construído”, afirmou.

E o secretário Caetano Marciano relatou sobre sua tetraplegia e como lida com a dor. Informou que a Secretaria Municipal de Agricultura, Ambiente e Mobilidade Urbana fornece ao cidadão a carteira de deficiente físico, basta entregar na secretaria um documento devidamente preenchido pelo médico e um comprovante de residência.

 

DEPOIMENTOS

As pacientes de fibromialgia, Edelwaiss e Géssica, criaram o grupo “Fibromiálgicos de Ubá”, há 3 anos. Elas contaram que procuraram os vereadores, como viabilizadores, na tentativa de ajudar as pessoas que sofrem com a dor crônica. Edelwaiss ressaltou que foi aprovada uma lei na Câmara de Ubá que lhes deu o direito de uso de uma carteirinha que facilita a utilização de serviços públicos. “Atualmente, a principal demanda do grupo é o aumento das consultas fornecidas pelo município com o reumatologista, porque o paciente precisa aguardar seis meses para consultar e mais seis meses para o retorno com os exames”, afirmou.

Géssica apontou a falta de energia como característica importante da fibromialgia, dizendo que a energia se perde ao longo do dia, então é importante saber utilizá-la. “Gostaria que a Prefeitura disponibilizasse um local para reuniões mensais, onde promoveriam palestras que ajudariam o fibromiálgico a entender melhor a sua doença, abordando todos os aspectos que ela atinge na vida de uma pessoa”, solicitou.

E por fim, algumas sugestões foram apresentadas pela plateia solicitando aos vereadores e à Prefeitura medidas que ajudem no tratamento com a equipe multidisciplinar e com a aquisição dos medicamentos, seja fornecendo-os ou disponibilizando um auxílio.

O secretário Paulo Vitor propôs ao Dr. Sardinha um encontro para estruturarem um treinamento aos médicos da atenção primária. E a vereadora Aline Melo disse que solicitará a inclusão dos medicamentos prescritos no tratamento da fibromialgia na farmácia municipal, porque são caros para a população.

Uma participante da plateia questionou quais seriam os médicos cadastrados para laudar o paciente para a confecção da carteira de deficiente e se seria possível deixar esse documento a ser preenchido e entregue na Secretaria de Agricultura, Ambiente e Mobilidade Urbana, no Programa Saúde da Família (PSF). O secretário Caetano respondeu que é aceito de qualquer médico que diagnostique a pessoa com fibromialgia. E que é possível deixar o documento no PSF. A vereadora Aline completou, explicando que o médico do PSF também poderá preencher o documento, mas precisa ser amparado pelo laudo do especialista, porque a pessoa precisa estar diagnosticada. E o vereador José Roberto comentou sobre a necessidade de se formalizar um documento, a ser encaminhado à Prefeitura, sobre as prioridades das demandas expostas.

registrado em: